«Há quem sustente que a adesão de Portugal às Comunidades implicou a
destruição do mundo rural e a perda irreversível da nossa capacidade
produtiva no setor primário. Este retrato é completamente desfasado da
realidade.
Quando aderimos às Comunidades, em 1986, o número de
agricultores era muito superior ao atual. Tínhamos, na altura, cerca de
600 mil agricultores, enquanto hoje possuímos menos de metade. De igual
modo, o número de explorações agrícolas registou uma quebra
significativa, de cerca de 53 por cento.
Quem observar apenas
estes números poderá concluir que, nos últimos trinta anos, a
agricultura em Portugal sofreu um grave retrocesso.
Não é verdade.
Importa ter presente toda a realidade, e não apenas uma parte dela,
quando procedemos a uma avaliação global e objetiva das transformações
ocorridas no setor primário.
De facto, mais do que um processo de
declínio da nossa agricultura, assistimos e ainda estamos a assistir,
isso sim, a uma reconversão profunda do mundo rural. Reconversão que,
sublinhe-se, era não só inevitável como desejável e que veio a
revelar-se, afinal, extremamente positiva.
A agricultura era um
setor que ocupava uma parcela significativa da nossa mão-de-obra, mais
por efeito da persistência de um modelo socioeconómico herdado do
passado do que por uma opção profissional deliberada. Não se era
agricultor, estava-se na agricultura. E estava-se na agricultura com
vista a assegurar o sustento do dia-a-dia, muitas vezes no limiar da
pobreza e da mera subsistência.
Àqueles que possuem uma visão
saudosista de um passado que, verdadeiramente, nunca existiu, basta
perguntar: se nessa altura se vivia bem no mundo rural, por que motivo
tantos e tantos Portugueses fugiam dos campos, em busca de uma vida
melhor?
Há cerca de 30 anos, tínhamos um setor agrícola
profundamente estagnado e descapitalizado, padecendo de fortes
limitações estruturais.
Conseguimos, com sucesso, operar uma
transformação estrutural da nossa agricultura. As explorações agrícolas,
em média, duplicaram de dimensão e a reconversão técnica e produtiva
que aí ocorreu permitiu obter resultados notáveis, que devemos conhecer
antes de formularmos juízos apressados, que ignoram os factos e os
números.
Na sua rigorosa objetividade, as estatísticas não
enganam. A produtividade da terra cresceu 22 por cento e a produtividade
do trabalho agrícola aumentou 180 por cento.
Há 20 anos, 80 mil
produtores de leite obtinham 1 milhão de toneladas por ano; atualmente,
7.800 produtores – ou seja menos de um décimo daqueles que existiam há
20 anos – conseguem produzir 2 milhões de toneladas. A produção global
no setor do leite duplicou e a produtividade por agricultor aumentou
mais de 20 vezes.
No setor do tomate para a indústria, a produção global aumentou duas vezes e meia e a produção por agricultor cresceu 26 vezes.
Na
olivicultura, aquilo que há 20 anos se produzia em 300 mil hectares
consegue hoje ser obtido em apenas 10 por cento da área, ou seja, 30 mil
hectares.
As grandes transformações não se cingiram a estes
setores. De um modo geral, a atividade agroindustrial e florestal foi
alvo de um intenso processo de modernização.
Afirmámo-nos como um
país exportador em vários domínios: frutas, hortícolas, vinhos, produtos
lácteos, concentrado de tomate, produtos de origem florestal. No
passado, apenas exportávamos pasta de papel, cortiça, vinho do Porto e
pouco mais.
O setor florestal, por seu turno, tem crescido
sistematicamente nos últimos anos, com as exportações a atingirem em
2012 o valor recorde de 3600 milhões de euros.
Nada disto seria
possível sem uma forte renovação do setor primário, a base em que
assenta o desenvolvimento de parcelas muito vastas do nosso País.»
excerto do discurso do Presidente da República em Elvas na Sessão Comemorativa do 10 de Junho
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